domingo, 19 de julho de 2015

Gibson SG Standard 2010. A primeira Gibson conquistada. Upgrades.


Após 10 anos da primeira guitarra - uma Squier Strat Affinity Series, presente do meu pai - em 2010 consegui adquirir minha primeira Gibson: uma SG Standard construída naquele ano, cor heritage cherry. Um sonho realizado, graças a anos de estudo, trabalho e apoio da minha esposa (imprescindível).

Se vocês lerem a história sobre aquela Squier, verão que a Gibson SG Standard é um sonho dos meus tempos de adolescente, quando eu dizia aos meus amigos que um dia teria uma.

Com o corpo inteiramente em mogno, assim como o braço, escala em rosewood, a SG (Solid Guitar) constituiu em uma tentativa da Gibson em substituir as pesadas e caras Les Paul em meados de 1961.
 
A tentativa de substituição da consagrada Les Paul não deu muito certo, mas certamente a Gibson apresentava ao mundo um novo conceito de guitarra - com acesso mais facilitado os últimos trastes, mais leve e com um som um pouco mais adido. Logo a guitarra caiu no gosto de algumas bandas como Black Sabath, AC/DC e até de Eric Clapton. Assim, a Gibson SG foi adquirindo uma legião de entusiastas 

Comprei a guitarra pela internet, de uma loja do ramo, com nota fiscal e tudo. Tive o prazer de receber a guitarra nova, na caixa, com plástico no escudo e dentro do excelente case original.

A primeira coisa que me chamou a atenção foi, além do cheiro doce da madeira, o finíssimo acabamento em nitrocellulose - o que permite quase ver as 'ferpas' da madeira. Até então eu nunca tinha visto um acabamento daqueles.  A segunda coisa que me impressionou foi a escala em rosewood - embora bonita, estava tão seca que fui obrigado a recorrer a um pouco de óleo de limão para hidratá-la. O interessante é que vi isso como um ponto positivo, pois atesta que a marca realmente preza pela escolha de madeiras 'secas' para a confecção dos seus instrumentos - o que justifica a durabilidade, confiança, timbre a sustain ímpares. Por fim, a terceira coisa que me chamou a atenção foi a espessura e os chanfros do corpo da guitarra, que é fino, leve e muito bem acabado, resultando em um instrumento confortável, com acesso fácil às últimas casas e diferenciado visualmente.

O fino acabamento e a tonalidade permitem constatar que o corpo desta guitarra é feito a partir de 2 peças de mogno, o que é bom, considerando que se trata de um instrumento 'standard', de linha. Para se ter ideia, tem muita guitarra no mercado vendida à beira dos R$2.000,00 que, não raro, é possível identificar que seu corpo é construído com 5-7 peças de madeira. Nada contra. O que importa é o resultado sonoro final e a satisfação daquele que possui o instrumento.

O braço se baseia no perfil dos anos 50 (50's profile - grosso, pegada 'cheia') - o que favorece timbres mais cheios - a captação original era Gibson 498T (ponte) e 490R (braço). A ponte era a nashville, sistema tune-o-matic.

Para minha feliz surpresa e com toda sinceridade, a guitarra se distanciava bastante da Epiphone G400 que eu tinha naquela época, por mais que aquela fosse uma boa guitarra (foto abaixo).


Percebi de pronto que a Epiphone G400 (que custava cerca de R$1.200,00 à época) não possuía acabamento no nível da Gibson SG Standard (que por sua vez custava cerca de R$5.000,00), merecendo destaque o verniz/pintura mais espesso, o escudo pequeno (estilo 61' reissue), a pegada do braço (menos cheia), ausência de frisos ao redor da escala, tarrachas (Grover na Epiphone; Kluson Deluxe na Gibson). Merecem destaque ainda as diferenças na captação: os captadores da Epiphone G400, embora fossem bons, em Alnico, não tinham a mesma sensibilidade e timbre clássico dos Gibson.

Entretanto, duas coisas não me agradavam muito na SG Standard: os captadores e a altura da stop bar (cordal - onde as cordas são presas) - que por conta da ponte nashville, ficava bastante alto, fazendo com que eu tivesse sempre a impressão que faltava alguma coisa nesta guitarra em termos de pegada.

Não demorou e em 2012 troquei o set de captação 498T/490R pelos Gibson 57' Classic (braço) e 57' Classic Plus (ponte). Em que pese o set 498T/490R ter equipado as Les Paul Standard por toda a década de 90, pelo menos até o início dos anos 2000, acho o 490R (braço) muito obscuro, sem definição, 'lamacento' como dizem alguns; o 498T (ponte), por sua vez, é muito bom, com boa saída e definição. Minha implicância era com o 490R mesmo...

Já conhecia os 57' Classic a partir de uma Gibson Les Paul Traditional Goldtop, ano 2010, que eu tive o prazer de negociar com um amigo de São Paulo-SP. São os melhores captadores da Gibson na minha opinião: timbre convincente, definido, muito equilibrado. Tais captadores são inspirados nos primeiros humbuckers (captadores duplos) desenvolvidos por Seth Lover para a Gibson em 1957 - os famosos P.A.F (patent aplied for). Antes, a Gibson utilizava os P-90 em suas Les Paul. Vide os modelos fabricados até 1956 (http://www2.gibson.com/Products/Electric-Guitars/Les-Paul/Gibson-Custom/1956-Les-Paul-Goldtop-Reissue.aspx).

Em suma, ouça AC/DC - o timbre dos 57' Classic é justamente aquele. Pela experiência com a Les Paul, imaginei, portanto, que seriam a escolha acertada para a SG, principalmente depois de ler nos fóruns gringos que seriam os captadores que mais destacariam a 'mordida' desse tipo de guitarra.

 (Foto da parte de baixo de um captador Gibson 57 Classic Plus, instalado na Les Paul Traditional)

Sinceramente, não é por acaso que a Gibson usa essa captação no modelo reedição de 61', que é mais caro e construído com um pouco mais de 'esmero'(http://www2.gibson.com/Products/Electric-Guitars/SG/Gibson-USA/SG-61-Reissue.aspx).

Ouso dizer que SG Standard mudou da água para o vinho: timbre clássico, puro AC/DC, com um maravilhoso timbre no braço (cheio e doce ao mesmo tempo) e ataque na medida certa para a ponte. Constatei que a SG respirava... passou a ter uma voz marcante. Enfim, era o que eu queria ouvir daquela guitarra.

O tempo passou e a pegada da guitarra ainda me incomodava. Faltava alguma coisa em relação àquilo que eu sentia em outras guitarras, principalmente as Gibson Les Paul Custom Shop 1957 e 1958 Reissue. Após muita pesquisa, testes e comparação, cheguei a uma conclusão: a vilã era a ponte Nashville - que impossibilitava um ajuste mais baixo do cordal e, portanto, poderia estar me roubando pegada e sustain.

Constatei que as melhores Les Paul que já tinham passado na minha mão, não por acaso, tinham o cordal colado ao corpo, com a utilização da ponte ABR-1 (esquerda, abaixo) - que é mais estreita que a Nashville (direita, abaixo):

(Fonte: http://www.michaelkey.com/gear/faber_vs_stock1.jpg)

Explico: a ponte Nashville, por ser ligeiramente mais larga, ao tempo que facilita o ajuste de entonação, dificulta uma regulagem mais baixa do cordal, principalmente em guitarras de tampo plano, considerando que a altura daquele deve ser a mais baixa possível, evitando, contudo, que as cordas encostem na parte traseira da ponte.

Em junho deste ano (2015) consegui achar no ebay uma ponte ABR-1 compatível com os pivôs da ponte Nashville (menos espessos) e saddles (carrinhos) de latão, com acabamento em níquel, da marca ALLPARTS, por cerca de U$35,00, mais frete. Após 17 dias e uma absurda cobrança de imposto de importação, recebi a ponte e mais que depressa instalei-a na SG. O resultado é visível (cordal colado ao corpo):

(repare o ângulo formado pelas cordas ao saírem do cordal e fazerem contato com a ponte; quanto maior o ângulo, maior a pressão sobre o cordal e, consequentemente, maior sustain)



Parece que adquiri outra guitarra; ajustada a entonação (oitavas), com cordas 0.10, a Gibson SG Standard 2010 assumiu uma pegada excelente e, mesmo desplugada, constatei sem esforço que o sustain aumentou consideravelmente. A afinação também melhorou e a guitarra agora parece 'justa', acertada, uma coisa só... não sei como descrever melhor. Plugada, o timbre que já era bom também melhorou bastante, merecendo destaque o acréscimo de harmônicos. Resultado: sonoridade mais 'quente', agradável aos ouvidos, com mais definição e ataque. Coisa difícil de explicar, principalmente se considerarmos que apenas trocamos uma ponte.

Assim pessoal, em que pese ser resistente a promover mudanças em minhas guitarras - principalmente nas Gibson - atesto que a substituição dos captadores 498T/490R pelo set de 57' Classic/Plus, somada à troca da ponte Nashville pela ABR-1, realmente melhoraram muito a SG Standard.

Fica a dica.

Abraço a todos,

Humberto.

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu Review sobre os captadores. Estava procurando um texto assim. Tenho uma SG standard 2011 e estou procurando melhorar o som da ponte que me incomoda muito. Vi que os 57 é um tiro certo. Abraço!

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